terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

O Folião Curitibano


O folião curitibano não pode existir. Não tem direito de pular Carnaval. Peca se levantar os dedinhos indicadores no salão ou nas ruas ao som das marchinhas de Lamartine ou de Braguinha. "-Doutor, eu não me engano! Odeio o Carnaval, pois nasci curitibano..."

O folião curitibano não tem samba no pé. Não sabe arrastar a sandália. Não tem ginga, rebolado, malemolencia. Escorrega no petit-pave. Só pula Carnaval para desviar das balas de borracha, das bombas de efeito moral e dos sprays de pimenta.

O folião curitibano não pode formar blocos. Só se for de concreto, para decorar a cidade com obras nababescas. Elefantes brancos que servem de propaganda para políticos que não ligam para a diversão da população, apenas para o marketing pessoal.

O folião curitibano não usa alegoria. Isso é coisa de Terceiro Mundo! Curitibano tem que usar terno e gravata, amar o céu nublado e apreciar o frio. Nada do calor das multidões, do colorido das fantasias ou da força rítmica da batucada. O único som que se pode ouvir é o das autoridades, dizendo-nos o que, quando e como devemos fazer as coisas, tais quais fôssemos crianças ingênuas.

O folião curitibano não nasceu para a diversão. Não pode brincar e nem sorrir. Tem o dever sagrado de fechar a cara e sequer dar bom dia para seus vizinhos. Tem que bater forte no peito e dizer que mora na Capital Ecológica, sem perceber que já não existem mais árvores ou animais, exceto os ratos que engordam sob o poder público ou os cavalos que atropelam professores que lutam por melhores salários.

O folião curitibano morreu. Antes da Quarta-Feira de Cinzas, vítima da violência policial. Chega de confete ou serpentina. E ainda tem gente que chama esta avenida de tristezas de "Cidade Sorriso". Pode?

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